Na passada terça-feira (24 de janeiro), a Startup Barreiro recebeu a Conferência “Atlantic Talks Barreiro: O futuro das empresas e o poder das marcas na defesa da sustentabilidade” nas suas instalações. O evento, em parceria com a Câmara Municipal do Barreiro e Startup Barreiro, e com o apoio da agência de marketing digital bauc. e Atlantic Station, foi composto por quatro sessões, e teve a presença do autarca, Rui Braga, para a recepção e boas-vindas de todos os participantes.
Portugal é mais do que Lisboa e Porto. Conheça o Barreiro!
“Todos os empresários e empreendedores que vêm para Portugal pensam logo à primeira: Lisboa ou Porto. Há muitos outros lugares muito interessantes com o ecossistema a borbulhar”, declara Eduardo Migliorelli, CEO da Atlantic Hub. O município do Barreiro é prova disso, uma cidade bastante desenvolvida que procura manter as suas tradições populares ao mesmo tempo que impõe modernidade. É também uma cidade que apoia os empresários, dando-lhes condições para construírem os seus negócios.
Segundo o vice-presidente da Câmara Municipal do Barreiro, Rui Braga, a autarquia isenta o Imposto Municipal sobre as Transmissões Onerosas de Imóveis (IMT), o imposto municipal derrama – que incide sobre o lucro tributável decorrente do exercício do período fiscal anterior da empresa – e o Imposto Municipal sobre Imóveis (IMI). “Nós damos estes apoios durante três anos e a empresa tem que manter as mesmas condições durante 10 anos”, afirma Rui Braga.
Os autarcas têm uma grande expectativa nas dinâmicas que podem vir a ser criadas nesta região através da StartUp Barreiro, uma incubadora de negócios, que poderá originar novos empregos e novos projetos, onde o enfoque está ligado, sobretudo, às áreas da sustentabilidade, cultura e criatividade.
De acordo com o autarca, “o município investiu 1,2 milhões de euros nesta infraestrutura” e com apenas seis meses de vida, a StartUp Barreiro foi certificada pela Rede Nacional de Incubadoras (RNI) e a candidatura ao Programa StartUp Visa, promovido pelo Instituto de Apoio às Pequenas e Médias Empresas e à Inovação (IAPMEI), foi aprovado. O Programa referido anteriormente apoia projetos internacionais que queiram sediar os seus negócios, de tipo startup, em Portugal.
O emprego mudou…
Quais os maiores desafios?
No caso da Cosmic Futures, uma empresa especialista em seleção de talentos espaciais, o CEO e Fundador, Hugo Nunes, conclui que o maior desafio é a falta de candidatos. “A indústria cresceu muito mais, comparando com as pessoas que se estavam a formar. Houve um deficit de talento nesta área”, afirma o CEO e Fundador da Cosmic Futures.
A agência de marketing digital manifesta preocupação, visto que a maior parte dos jovens que participaram no seu processo de recrutamento demonstraram pouca ambição, declara André Pereira, o CEO e Fundador da The Pear. Por outro lado, Ariane Gomes, Business Developer da Growyx – uma plataforma de freelancers de tecnologia e marketing -, acredita que os jovens “são autodidatas, e por mais que façam um curso na universidade, esforçam-se por ir atrás do autoconhecimento”.
Para os recrutadores, a postura dos candidatos é um fator a ter em conta. De acordo com André Pereira, “o que é que adianta ter um profissional muito técnico, que sabe muita coisa, se depois esse profissional não se sabe relacionar. Ou se formos contratar uma pessoa para um cargo de liderança, que tenha formação na área, mas que não tenha capacidade para gerir pessoas, não vai ser eficiente para o cargo que procuro”.
A Cosmic Futures utiliza a técnica “hiring beyond skills and experience”, através da “behaviour science”, para garantir que todos os matches são correctos para as posições em si, não só de uma perspectiva técnica mas também de um ponto de vista de atitudes e comportamentos. Esta ferramenta informa ainda sobre “quais são as capacidades e prioridades daquela pessoa como funcionário (…) e ainda nos consegue oferecer um relatório com informação de como é que a empresa pode fazer a gestão daquela pessoa, baseado no seu perfil de comportamento”, anuncia Hugo Nunes.
No seguimento e no que toca à gestão de pessoas, a moderadora, Nádia Leitão, Coordenadora da StartUp Barreiro, menciona “que não é o colaborador que se deve adaptar ao líder, no sentido de ser proativo, mas deve ser sempre o líder que se deve adaptar aos seus colaboradores”. Mariana Caldeira, mestre de cerimónias e Gestora da Comunidade e do Marleting do Atlantic Station acrescenta que para sermos proativos “é preciso termos o apoio do líder para o sermos”, que dê a conhecer ao colaborador o que se pode ou não fazer, que fale sobre a sua experiência e se mostre como se faz, para que surja, assim, a proatividade.
Salário ou benefícios – o que procuram os colaboradores?
Rodrigo Varela, Country Manager da Blend Euro – uma empresa que disponibiliza serviços profissionais de informática, especializada em desenvolvimento de projetos chave-na-mão, outsourcing e AMS -, afirma que vê o futuro “com o trabalho híbrido, três dias em casa, dois dias na empresa ou dois em casa e três na empresa”. Considera também importante as conversas que surgem durante o almoço ou quando os colaboradores estão a preparar-se para sair do escritório, pois “nós estamos ali a conversar outros temas, outros assuntos, a conhecer as pessoas, para nos desenvolvermos”, afirma.
De acordo com Ariane Gomes, nos dias de hoje, o colaborador procura “estar dentro de uma empresa que tenha uma comunicação clara, onde saiba quais as tarefas a desempenhar e que o seu salário seja compatível com o nível técnico, e que também tenha benefícios como seguro de saúde e de vida”. Por sua vez, a Business Developer da Growyx afirma, que para alguns candidatos, os benefícios são mais relevantes do que o próprio salário.
Qual o papel das marcas na defesa da sustentabilidade?
Patrícia Saldanha, Diretora de Sustentabilidade da Ecologika – uma consultora estratégica para a transição climática -, recolheu dados do ano passado (2022) de empresas cotadas na bolsa e concluiu que 57% dessas entidades não tinha emitido o relatório de sustentabilidade, 17% emitem eventualmente uma ou duas vezes e apenas 26% emitem anualmente o relatório de sustentabilidade. Refere a importância destes relatórios e o quanto as empresas podem contribuir para um mundo melhor, instruindo os seus clientes.
Em relação ao greenwashing, Miguel Fernandes, Diretor de Tecnologia da Witseed – empresa que produz documentários educacionais para profissionais em grandes empresas -, realça que “não podemos só mostrar publicamente que nos interessamos, mas também que investimos” e que a relação entre consumidores e empresa está cada vez mais exigente, onde um selo de sustentabilidade é cada vez mais significativo. Andreia Mourão, empreendedora com o projeto “Momentum Housekeeping” – que oferece soluções de housekeeping, gestão doméstica e limpezas -, complementa que as empresas devem questionar se há alternativas à cadeia de valor já existente e não adoptar uma postura prática. Exemplo desta situação, de reflexão sobre as cadeias de valor que as entidades já possuem, referida pela empreendedora da StartUp Barreiro, Verónica Pimenta, é que “os copos de “cartão” (supostamente), que nós reutilizamos têm plástico na sua composição (…) e em Portugal não se consegue reciclar este tipo de copos porque é muito caro e nem todas as empresas que fazem reciclagem conseguem fazê-lo”.
A sustentabilidade é também responsabilidade social
Uma empresa é uma comunidade e para viver os princípios de sustentabilidade no seu interior tem que ter o próprio mindset de empresa sustentável, pois de acordo com Verónica Pimenta, “se não o tiver é impossível passar essa mensagem para os seus colaboradores”. Por sua vez, “as empresas são as pessoas, existem pessoas nas empresas, existem os consumidores que vão pressionar as empresas e existem os investidores que vão decidir onde investir e é a pressão das pessoas que vai sensibilizar” tudo o que se pode fazer dentro das organizações, declara Miguel Fernandes.
Segundo Pedro Coelho, sócio e gestor da INODEV – uma consultora que presta serviços inovadores, independentemente do setor de atividade e dimensão dos negócios -, “o salário emocional não é só euros é também fazer com que os colaboradores sintam que estão a contribuir para a sociedade e que são reconhecidos, e que também ganham dinheiro, e reter talentos também passa por isso”. Verónica Pimenta acrescenta que através de ações simples como lecionar os colaboradores de como reciclar, reduzir o uso de papel nas empresas, ou até mesmo disponibilizar o passe social – que pode fazer parte do salário dos funcionários -, ou ainda um seguro de saúde ou apoio psicológico, faz com que o colaborador se sinta acolhido e a empresa promova um bom ambiente e crie sustentabilidade dentro da empresa. “O lucro é a curto prazo, mas a notoriedade não”, realça a empreendedora da StartUp Barreiro.
O sócio e gestor da INODEV refere a importância do marketing viral, visto que os colaboradores quando saem do trabalho “falam com os seus amigos que estão noutras empresas e expandem gradualmente os princípios que se vivem nessa empresa (…) e é o que faz com sejam os colaboradores a escolher a empresa e não seja aquela empresa a escolher os colaboradores”.
O Atlantic Talks é uma iniciativa organizada pela Atlantic Hub, com o apoio do Atlantic Station, para que todas as empresas instaladas na incubadora do Atlantic Station tenham oportunidade de divulgar os seus negócios. Promover e identificar os pontos fortes de cada região portuguesa para integrar o seu negócio é outro elemento desta atividade.
Assista à Conferência no canal de Youtube do Atlantic Station: https://www.youtube.com/watch?v=gUq7jWpHuRY .